ESPAÇO ABERTO
KANIVETE
* Fernando Afonso Carneiro Peixoto
O Kanivete foi o percursor do "O Pasquim", assim como "O Binômio", criado pelo ubaense Euro Arantes. Hoje, Euro seria nascido em Guidoval. Mas na época Guidoval era distrito de Ubá, se chamava Sapé, então Euro era ubaense...
O Kanivete foi se firmando em algumas seções célebres assim como os livros "Thesouros da Juventude", que estavam presentes nas estantes de quem gostava de ler, na época. Eram os i-pods, os i-phones, os tables, os vê se-pods: O livro dos porquês, cousas que devemos saber, o livro dos contos, e outros.
O Kanivete foi nessa linha: informava, assim cortando, picando em pedaços (deixando as partes boas, quando queria, e mostrando só as maledicências, quando queria...) mas tudo na alegria, no deboche, na caricatura, sem machucar ninguém.
Em Cartaz da Semana, ele comparava os títulos do cinema com os personagens da rapaziada ubaense.
Em Coisas que Incomodam, ele debochava dos detalhes do cotidiano ubaense.
Filmes Exibidos, Músicas em Revista, em todas as colunas ele satirizava os costumes e as pessoas da cidade.
É claro, era esperado com uma ânsia tremenda, a próxima edição do jornal.
Tanto pelos que eram elogiados pelo redator, ou por quem caía nas "sacanagens" sadias do jornalista.
Meu pai, certa feita (gostaram dessa: "certa feita"? É da época!) caiu nas lâminas do Kanivete.
Meu pai trabalhava às noites, no sossêgo da casa, onde mantinha seu escritório. Trabalhava até tarde, todas as noites, e eu, jovem, adulto até, fui testemunha do teclatear de sua máquina de escrever, até altas horas, quase todas as noites.
Não fazemos isso hoje no computador?
Sei que, às vezes, não estava "trabalhando". Estava escrevendo pros amigos, que sustentavam uma vasta correspondência, anos a fio. Ou redigindo a próxima edição da "Cidade de Ubá", que também sustentou, por muitos anos. Ou escrevendo discursos, sei lá.
Mas O Kanivete pegou ele na malha fina. Assim como pegou o Dr. Jacintho, O Dr. Pedro Xavier e o Dr. Lourenço.
O Kanivete não era muito chegado ao Partido Republicano, composto só por homens muito sérios, e poucos chegados às festas e irreverências.
Saiu no "Coisas que Incomodam" que o Dr. Floriano mantinha a luz do seu escritório acessa até tarde da noite para parecer para todos que frequentavam a Praça São Januário que estava trabalhando, mas estava mesmo é tomando café com pão com linguiça frita na cozinha de sua casa...
Meu pai tomou uma birra enorme do Kanivete.
Fez minha amizade com o jornalista Edson Furtado de Caiaffa, "untar" a aproximação dos dois.
Quando vim a Ubá, como arquiteto, Kaniff de Kaniff só me fazia elogios no seu jornal.
Juntos, com Ferdy Carneiro, Jacinto Sobrinho - de Divinésia, Alvaro Hardy - O Veveco - grande arquiteto de BH, Jaguar - do Pasquim, Luiz Paulo - o Ceíta, e dezenas de amigos, curtimos muito bons momentos.
O Pasquim certa vez entrevistou o Kanivete. Mas dizia Ferdy, o Kaniff não era jornalista. Ele não falou nada!
Ele sabia de tudo.
Se intitulava o correspondente do Ubá em Oslo, na Suécia, onde tinha um amigo ubaense que uma vez por ano lhe enviava uma linha como colaborador, e correspondente de Ubá também em Londres, pela mesma circuntância.
Com o pseudônimo Kaniff de Kaniff o jornalista se tornou um grande colunista social, das antigas, à la Ibraim Sued, ou Jacinto de Tormes.
Elegia ano a ano, "As 10 Mais".
Era esperada a lista. Por anos a fio, grande parte das 10 Mais eram as mesmas... Mas Ubá foi a mesma por muito tempo.
Até que...
Estamos aqui, ainda, né!
Kaniff foi um sacana. Diziam, pô morreu assim, nem avisou a gente!
Peguei na alça do caixão dele. Levei ele, aqui na terra, até lá e ...*Fernando Afonso é filho do renomado advogado Dr.Floriano Peixoto e Paula Carneiro Peixoto
PRECIOSIDADE: Folhas do 1º jornal "O KANIVETE"