Filme
"As Orfãs da Rainha"
Elza Cataldo
"As Órfãs da Rainha" dirigido e produzido pela tocantinense Elza Cataldo, antes mesmo antes de ser lançado no Brasil, já conquistou prêmios internacionais como o de melhor filme histórico da 14ª edição do Toronto International Women Film Festival.
O longa-metragem foi rodado em 2017 e 2022 em Tocantins/MG - Zona da Mata, terra natal da diretora e realizado com apoio do grupo ENERGISA.
____________________________________________
Recordando...
De pé: Helena Gomes de Souza?, Célia Mazzei, Auxiliador Lopes Pereira, Sr.Heitor e D.Elza, técnicos e mentores do Ballet Aquático de Ubá, a seguir ainda de pé, outros dirigentes do Ubá Tennis Club, Elimar Jacob e Helena Mello.
Agachadas: Celma Mazzei, Isabel Brandão, Eliésse Peixoto, ?, Rose Eduarda Campos, Marta Gravina, Enilce Teixeira, Liana Rosa
_______________________
Elza Marcato
FÓRUM REGIONAL EM UBÁ
Ubá vai sediar neste mês de março o FÓRUM REGIONAL DE FAMÍLIA ACOLHEDORA.
O Fórum é uma iniciativa da SECRETARIA MUNICIPAL DE DESENVOLVIMENTO SOCIAL e do MINISTÉRIO PÚBLICO DE MINAS GERAIS, como apoio do TRIBUNAL DE JUSTIÇA DE MINAS GERAIS(TJMG).
O evento é aberto a profissionais da cidade e região que atuam na proteção dos
direitos de crianças e adolescentes.
Para o Secretário Municipal de Desenvolvimento Social, FLÁVIO MONTESE, a implantação do serviço no Município vai humanizar ainda mais o trabalho da Casa da Criança e Juventude.
O serviço FAMÍLIA ACOLHEDORA(SFA) é uma modalidade que visa oferecer proteção às crianças e adolescentes que precisam ser afastadas temporariamente de sua família.
Fonte: Jornal "O Noticiário"
_______________________________
Espaço Aberto
A casa das águas
Jordana Thadei *
A
porta de vidro que dá pra varanda me distrai do trabalho, enquanto as
águas de verão açoitam São Paulo. Toda tarde é assim, até que eu me
rendo e me coloco a contar, pacientemente, quantas cerâmicas do chão já
foram cobertas pela água, quantas faltam pra chegar até a porta e, às
vezes, quantos centímetros faltam pra água entrar na sala e danificar o
piso de madeira. Vez ou outra, enfrento a tempestade e vou até o único
ralo, aliviá-lo das folhas das plantas, arrancadas pelo vento.
Abandono
meu pequeno pesadelo de classe média privilegiada e me transporto à
infância no interior de Minas, onde a possibilidade das enchentes nos
molhava o sono, no verão. O sonho da casa própria nos levou da “Rua da
Ordem” para uma travessa da Beira Rio, numa casa com garagem, um
escritório independente e um grande quintal com três casuarinas.
Na
casa da vizinha, a linha amarela que percorria todos os cômodos, a mais
ou menos um metro do chão, me despertou a atenção. Ela esclareceu, como
quem informa quem é a pessoa na fotografia do porta-retrato: “É a marca
da água.” “Que água?”, perguntei. “A água da enchente, uai!” E mostrou
os ganchos no teto da casa, para içar os móveis mais leves e as malas
que ficavam prontas no alto dos guarda-roupas, os armários da cozinha
esvaziados na parte de baixo e acumulados na parte alta e, também, as
comportas em todas as entradas e janelas. Por fim, jogou a última pá de
cal: “E o nosso terreno é 60 centímetros mais alto que o de vocês”. A
mãe da menina, lendo nas minhas feições que isso nunca havia circulado
lá em casa, pediu que eu chamasse minha mãe.
Mãe
desaguou em choro, ali mesmo, diante do forte esquema de retardamento
das águas. O financiamento da casa nos afogando e a possibilidade de
tudo ir por água abaixo, inclusive a própria casa. Naquela hora,
soubemos que antes mesmo de as águas lamberem o asfalto da Beira Rio, a
inundação já ameaçava a casa. Não dependia de o rio transbordar. Bastava
encher o suficiente para atingir as manilhas que desaguavam no rio e a
água voltava por elas, saindo no bueiro em frente a casa e na rede de
esgoto. Também não era só a chuva forte na cidade que provocava
enchentes. Uma tromba-d’água na cabeceira do rio, ainda que não caísse
uma gota na cidade, era suficiente para que o rio enchesse.
Pra
piorar, a casa começava no nível da rua e ía descendo: um degrau da
sala de estar para a sala de televisão, onde também ficavam os quartos.
Outro degrau daí para a copa e mais um degrau para a cozinha. Por fim,
três degraus para o quintal, que se transformava em lagoa, cujo terreno
argiloso não favorecia a absorção da água, dependendo exclusivamente da
evaporação. Os meses seguintes foram de elevação das partes mais baixas
da casa, instalação de registros para fechar as tubulações, colocação de
comportas e reserva do lugar mais alto da casa – em cima do armário de
casal – para o saxofone do meu pai.
No verão, o
rio enchia sempre à noite. Mãe tirava a tampa de ferro e entrava no vão
do registro, para fechá-lo, já que eu não tinha forças pra isso. Passava
a noite na janela, na ponta do pé, espiando o bueiro por cima da
comporta e rezando. Às vezes, cruzava a Beira Rio, embaixo de chuva, e
ía se certificar da altura do rio. Certa vez, entendeu que as águas
estavam vindo e nos refugiamos na varanda da mansão da esquina, depois
de saltarmos a grade, no meio da noite. Meu pai, que nunca tinha visto o
cenário “anti-guerra” nas casas dos vizinhos, também nunca estava em
casa. Quando ele chegava, mãe, quase sempre chorando, o assaltava já na
porta da sala, relatando o sufoco. Antes de qualquer coisa, ele
perguntava: “E meu saxofone?”. Em uma das vezes, mãe respondeu: “Você
não perguntou, mas seus filhos estão bem. Quanto ao saxofone, se a
enchente passar, eu coloco ele na porta, pra água levar”. Não precisou. A
última noite atormentada pelas águas, naquela casa, contava com a
presença de meu pai. Ele permaneceu deitado por todas as vezes que mãe
se levantou para vigiar o rio. Pela manhã, perguntou se era daquele
jeito que ela atravessava as noites de fortes chuvas e ela respondeu que
sim. Saiu para o trabalho e, no almoço, nos comunicou que a casa estava
a venda. Não vivenciamos as enchentes. De invasão de águas, só as dos
olhos de minha mãe. E foi muita água.
Mãe nunca fez
questão de esconder dos filhos que pai perguntava primeiro pelo
saxofone. Muito pelo contrário. Em toda a minha vida, só vi meu pai
passar uma semana sem pegar no instrumento. E foi nessa mesma casa das
águas, quando morreu meu avô Raul. Fora isso, estudava todos os dias,
fazia exercícios repetitivos e acelerados. Era pai exercitando, cachorro
uivando e a gente reclamando. Mas ao final de hora meia ou duas de
treino, nos agradava com duas ou três músicas completas. Nunca vi o
saxofone esquecido fora do estojo de veludo. Fosse a hora que fosse,
tivesse bebido isso ou aquilo, o instrumento sempre voltava para o
estojo, limpo e com as peças embaladas em flanelas. Anos depois pude
entender a alma artista de meu pai, quando assisti ao filme “O piano”
(1993) e compreendi que o saxofone não era um instrumento. Era uma
extensão de meu pai. Era a alma dele. Nunca mais reclamei dos exercícios
e acho que perdoei a preocupação com o saxofone, na casa das águas. Não
dá pra salvar o outro, quando nós mesmos estamos pela metade.
* Jordana - Professora e autora de livros didáticos
Riobranquense filha do saudoso e exímio saxofonista João Botafogo e Maíse Lima
_____________________________
_________________________________
CONTERRÂNEO, SEJA UM SEGUIDOR DO BLOG "UBÁ NOTÍCIAS"
____________________________________
Como proceder para postar mensagem nos "Comentários" desta página:
-Clicar em "comentário" "nenhum comentário"
-Clicar em "digite" (digitar na janela aberta)
-Selecionar o perfil em "comentar como" (aparece várias opções - clicar em "nome/URL")
-Clicar em publicar
-Aparece espaço para colocar o nome da pessoa que fez o comentário
Caso não acerte; envie seu comentário para o email: ligiaroeira@gmail.com
_________________________________________
-Clicar em "digite" (digitar na janela aberta)
-Selecionar o perfil em "comentar como" (aparece várias opções - clicar em "nome/URL")
-Clicar em publicar
-Aparece espaço para colocar o nome da pessoa que fez o comentário
Caso não acerte; envie seu comentário para o email: ligiaroeira@gmail.com
_________________________________________
Olá Jordana, que bacana seu texto sobre as enchentes, em especial da sua casa. Me faz lembrar as muitas enchentes que aconteceram em Ubá e que infelizmente outras virão. Grande abraço de Celso Siqueira de Magalhães. Para te lembrar sou casado com a Luciene.
ResponderExcluirCelso, me lembro muito. Obrigada. Abraço à Luciene.
ExcluirOi Jordana, são lembranças q ficam guardadas, que nos deixam tristes e q aconteceram e acontecerão só não sabemos qdo. Forte abç, Lilize!
ResponderExcluirQuerido Lilize, obrigada. Abraço à Janete.
Excluir