terça-feira, 28 de março de 2023

"UBÁNOTÍCIAS"POSTAGEM N°3153-ANO 13

Lígia Aroeira
Filme
"As Orfãs da Rainha"












Elza Cataldo




"As Órfãs da Rainha" dirigido e produzido pela  tocantinense Elza Cataldo, antes mesmo antes de ser lançado no Brasil, já conquistou prêmios internacionais como o de melhor filme histórico da 14ª edição do Toronto International Women Film Festival. 
O longa-metragem foi rodado em 2017 e 2022 em Tocantins/MG - Zona da Mata, terra natal da diretora e realizado com apoio do grupo ENERGISA.
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Recordando...
De pé: Helena Gomes de Souza?, Célia Mazzei, Auxiliador Lopes Pereira, Sr.Heitor e D.Elza, técnicos e mentores do Ballet Aquático de Ubá, a seguir ainda de pé, outros dirigentes do Ubá Tennis Club, Elimar Jacob e Helena Mello. 
Agachadas: Celma Mazzei, Isabel Brandão, Eliésse Peixoto, ?, Rose Eduarda Campos, Marta Gravina, Enilce Teixeira, Liana Rosa
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Elza Marcato

FÓRUM REGIONAL EM UBÁ
Ubá vai sediar neste mês de março o FÓRUM REGIONAL DE  FAMÍLIA ACOLHEDORA.
O Fórum é uma iniciativa da SECRETARIA MUNICIPAL DE DESENVOLVIMENTO SOCIAL e do MINISTÉRIO PÚBLICO DE MINAS GERAIS, como apoio do TRIBUNAL DE JUSTIÇA DE MINAS GERAIS(TJMG).
O evento é aberto a profissionais da cidade e região que atuam na proteção dos
direitos de crianças e adolescentes.
Para o Secretário Municipal de Desenvolvimento Social, FLÁVIO MONTESE, a implantação do serviço no Município vai humanizar ainda mais o trabalho da Casa da Criança e Juventude.
O serviço FAMÍLIA ACOLHEDORA(SFA) é uma modalidade que visa oferecer proteção às crianças e adolescentes que precisam ser afastadas temporariamente de sua família.

Fonte: Jornal "O Noticiário"
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Espaço Aberto
A casa das águas
Jordana Thadei *
A porta de vidro que dá pra varanda me distrai do trabalho, enquanto as águas de verão açoitam São Paulo. Toda tarde é assim, até que eu me rendo e me coloco a contar, pacientemente, quantas cerâmicas do chão já foram cobertas pela água, quantas faltam pra chegar até a porta e, às vezes, quantos centímetros faltam pra água entrar na sala e danificar o piso de madeira. Vez ou outra, enfrento a tempestade e vou até o único ralo, aliviá-lo das folhas das plantas, arrancadas pelo vento. 
Abandono meu pequeno pesadelo de classe média privilegiada e me transporto à infância no interior de Minas, onde a possibilidade das enchentes nos molhava o sono, no verão. O sonho da casa própria nos levou da “Rua da Ordem” para uma travessa da Beira Rio, numa casa com garagem, um escritório independente e um grande quintal com três casuarinas.
Na casa da vizinha, a linha amarela que percorria todos os cômodos, a mais ou menos um metro do chão, me despertou a atenção. Ela esclareceu, como quem informa quem é a pessoa na fotografia do porta-retrato: “É a marca da água.” “Que água?”, perguntei. “A água da enchente, uai!” E mostrou os ganchos no teto da casa, para içar os móveis mais leves e as malas que ficavam prontas no alto dos guarda-roupas, os armários da cozinha esvaziados na parte de baixo e acumulados na parte alta e, também, as comportas em todas as entradas e janelas. Por fim, jogou a última pá de cal: “E o nosso terreno é 60 centímetros mais alto que o de vocês”. A mãe da menina, lendo nas minhas feições que isso nunca havia circulado lá em casa, pediu que eu chamasse minha mãe.
Mãe desaguou em choro, ali mesmo, diante do forte esquema de retardamento das águas.  O financiamento da casa nos afogando e a possibilidade de tudo ir por água abaixo, inclusive a própria casa. Naquela hora, soubemos que antes mesmo de as águas lamberem o asfalto da Beira Rio, a inundação já ameaçava a casa. Não dependia de o rio transbordar. Bastava encher o suficiente para atingir as manilhas que desaguavam no rio e a água voltava por elas, saindo no bueiro em frente a casa e na rede de esgoto. Também não era só a chuva forte na cidade que provocava enchentes. Uma tromba-d’água na cabeceira do rio, ainda que não caísse uma gota na cidade, era suficiente para que o rio enchesse. 
Pra piorar, a casa começava no nível da rua e ía descendo: um degrau da sala de estar para a sala de televisão, onde também ficavam os quartos. Outro degrau daí para a copa e mais um degrau para a cozinha. Por fim, três degraus para o quintal, que se transformava em lagoa, cujo terreno argiloso não favorecia a absorção da água, dependendo exclusivamente da evaporação. Os meses seguintes foram de elevação das partes mais baixas da casa, instalação de registros para fechar as tubulações, colocação de comportas e reserva do lugar mais alto da casa – em cima do armário de casal – para o saxofone do meu pai. 
No verão, o rio enchia sempre à noite. Mãe tirava a tampa de ferro e entrava no vão do registro, para fechá-lo, já que eu não tinha forças pra isso. Passava a noite na janela, na ponta do pé, espiando o bueiro por cima da comporta e rezando. Às vezes, cruzava a Beira Rio, embaixo de chuva, e ía se certificar da altura do rio. Certa vez, entendeu que as águas estavam vindo e nos refugiamos na varanda da mansão da esquina, depois de saltarmos a grade, no meio da noite. Meu pai, que nunca tinha visto o cenário “anti-guerra” nas casas dos vizinhos, também nunca estava em casa. Quando ele chegava, mãe, quase sempre chorando, o assaltava já na porta da sala, relatando o sufoco. Antes de qualquer coisa, ele perguntava: “E meu saxofone?”. Em uma das vezes, mãe respondeu: “Você não perguntou, mas seus filhos estão bem. Quanto ao saxofone, se a enchente passar, eu coloco ele na porta, pra água levar”. Não precisou. A última noite atormentada pelas águas, naquela casa, contava com a presença de meu pai. Ele permaneceu deitado por todas as vezes que mãe se levantou para vigiar o rio. Pela manhã, perguntou se era daquele jeito que ela atravessava as noites de fortes chuvas e ela respondeu que sim. Saiu para o trabalho e, no almoço, nos comunicou que a casa estava a venda. Não vivenciamos as enchentes. De invasão de águas, só as dos olhos de minha mãe. E foi muita água.
Mãe nunca fez questão de esconder dos filhos que pai perguntava primeiro pelo saxofone. Muito pelo contrário. Em toda a minha vida, só vi meu pai passar uma semana sem pegar no instrumento. E foi nessa mesma casa das águas, quando morreu meu avô Raul. Fora isso, estudava todos os dias, fazia exercícios repetitivos e acelerados. Era pai exercitando, cachorro uivando e a gente reclamando. Mas ao final de hora meia ou duas de treino, nos agradava com duas ou três músicas completas. Nunca vi o saxofone esquecido fora do estojo de veludo. Fosse a hora que fosse, tivesse bebido isso ou aquilo, o instrumento sempre voltava para o estojo, limpo e com as peças embaladas em flanelas. Anos depois pude entender a alma artista de meu pai, quando assisti ao filme “O piano” (1993) e compreendi que o saxofone não era um instrumento. Era uma extensão de meu pai. Era a alma dele. Nunca mais reclamei dos exercícios e acho que perdoei a preocupação com o saxofone, na casa das águas. Não dá pra salvar o outro, quando nós mesmos estamos pela metade.

* Jordana - Professora e autora de livros didáticos
Riobranquense filha do saudoso e exímio saxofonista João Botafogo e Maíse Lima
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4 comentários:

  1. Olá Jordana, que bacana seu texto sobre as enchentes, em especial da sua casa. Me faz lembrar as muitas enchentes que aconteceram em Ubá e que infelizmente outras virão. Grande abraço de Celso Siqueira de Magalhães. Para te lembrar sou casado com a Luciene.

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    1. Celso, me lembro muito. Obrigada. Abraço à Luciene.

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  2. Oi Jordana, são lembranças q ficam guardadas, que nos deixam tristes e q aconteceram e acontecerão só não sabemos qdo. Forte abç, Lilize!

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