quinta-feira, 10 de agosto de 2023

"UBÁNOTÍCIAS"POSTAGEM N°3235-ANO 13

Lígia Aroeira
Comemoração














Fatinha Póvoa comemorou mais um ano de vida com muitos familiares e amigos.
Ela reside no Rio, mas não deixa de conviver com ubaenses e de visitar a nossa cidade.
Parabéns!
________________________________________
Gramado





















Maria Helena Gomes Santiago, a filha Juliana e netos
______________________________




Elza Marcato

Anna Cristina De Felippo















____________________
Espaço Aberto
O NINHO DAS TRAÇAS
(Jordana Thadei – 2017)










Tornei-me leitora aos treze anos, embora tenha sido alfabetizada aos seis. Antes disso, a leitura era apenas uma tarefa escolar, na minha vida. Minha mãe dava aulas o dia todo e estudava à noite. Quase não a víamos, eu e meu irmão. Ela passava os finais de semana soterrada em papéis da escola ou da faculdade. E lia, lia, lia romances que eu gostava de admirar. Eram grossos, finos, encapados, sem capa, escangalhados, novos, despencados, branquinhos, amarelados. Não importava. A livraria mais próxima ficava a 80 quilômetros. Mas a leitura, para ela, valia a pena, ainda que fosse do gosto literário do vizinho que tivesse algo para emprestar. Enquanto ela lia, parecia transportada para outros mundos, e fazíamos o que bem quiséssemos, dentro de casa. Aprendi isso muito cedo e me beneficiei bastante. Fora de casa, eu cruzava “o Pomba” de ponta a ponta, na minha Caloi roxo-metálico, acompanhada de outras “crianciclistas”. 
Aos poucos fui decidindo que os livros jamais me desconectariam do mundo, como pareciam fazer com minha mãe. E nunca me interessei por eles. Mas, no meio do caminho, tinha a professora do 3º- ano primário, a dona Eliane, que finalizava o dia de aula com leitura literária para os alunos. Lembro-me que o último livro do ano foi O MENINO DO DEDO VERDE. Consigo ver o sorriso no rosto da dona Eliane fazendo o suspense para a última linha do livro e fechando a capa verde, vagarosamente. Nem imaginávamos que “Tistu era um anjo”. Pega de surpresa, fiquei emocionada e um pouco revoltada também. Afinal, eu encerrava um ciclo de histórias de finais previsíveis e felizes. 
No ano seguinte, na nova cidade, algum professor passou pela (antiga) 6ª- série e exigiu a leitura de “um livro”. Qual livro? Qualquer um. Escolhi o mais magrinho da coleção do Monteiro Lobato que minha mãe ganhou e devorou aos 8 anos de idade. Era bonita. Verde, de capa dura e escrita de dourado. Mas não tinha ilustração e o papel da página já estava áspero. Não me lembro que livro li. Mas li. Era tarefa escolar e eu não ousava descumprir. 
Em casa, havia a coleção do Monteiro Lobato e a coleção do Tarzan, ambas lidas e re-re-relidas pela minha mãe, na infância. E quanto mais eu sabia das histórias de que ela foi “criança-traça”, menos eu tinha vontade de ler. 
Aos 10 anos, vô me explicou a importância da literatura. E me presenteou com DONA BEIJA. Eu mal podia carregar o livro e arrepiava só de pensar que um dia teria que dar cabo do calhamaço. Ele havia me tranquilizado dizendo que era “para quando eu tivesse vontade de conhecer”. Mas isso já era um compromisso de ter que ter vontade. Era isso ou decepcionar o meu avô. Vó, percebendo o despropósito do presente, fez uma tentativa com POLLYANNA, mas o “jogo do contente” estava longe de ser sequer interessante para uma pré-adolescente bocuda e atrevida. Arriscou MEU PÉ DE LARANJA LIMA que ficou destruído pelas minhas lágrimas. A ideia de que a leitura era isolamento e sofrimento ia se fortalecendo em mim.
De presentes de viagem, meu irmão ganhava um livro e eu alguma outra coisa. Eu estava com uns treze anos, quando na casa da minha avó – o ninho das traças, meu tio questionou o que me era oferecido para ler. Não me lembro como terminou a conversa. À tarde o tio me entregou um livro, sem dizer muito. O título era O MENINO NO ESPELHO. Nome de livro para criança, mas cara de livro de adulto. Perguntei se era pra entregar pra minha mãe, a traça da casa. “Leia a dedicatória!”. Ele respondeu.
PARA ANADROJ,
COM ABRAÇO DO TIO CLEBER.
Quis saber quem era Anadroj e ele correu o dedo no nome de trás pra frente, espelhado. ANADROJ / JORDANA. Não vi sentido, mas achei engraçado e quis saber o motivo de o meu nome estar assim. “Isso você só vai saber mais ou menos na metade do livro”, foi a resposta dele. Terminei a leitura no dia seguinte, apaixonada por Fernando Sabino e iniciada na fruição leitora. Esse tio me “alimentou” de livros por muito tempo. Anos mais tarde, em um evento na Unicamp, tive contato com o trabalho de Jorge Larrosa: “Carta aos leitores que vão nascer”. E me dei conta de que a leitora nasceu em mim aos treze anos, embora eu já soubesse ler. 
 
Texto revisado, publicado originalmente na revista Na ponta do lápis, número 29, julho de 2017, para o curso Caminhos da Escrita, sob o (terrível) título de Uma descoberta adolescente.

*Jordana Thadei é riobranquense, residiu em Ubá. Filha do saudoso João Botafogo e Maíse Lima
_______________
Não postamos o Blog "Ubá Notícias" sábado, domingo e feriados
_________________________________
CONTERRÂNEO, SEJA UM SEGUIDOR DO BLOG "UBÁ NOTÍCIAS"
___________________________________
Como proceder para postar mensagem nos "Comentários" desta página:
-Clicar em "comentário" "nenhum comentário"
-Clicar em "digite" (digitar na janela aberta)
-Selecionar o perfil em "comentar como" (aparece várias opções - clicar em "nome/URL")
-Clicar em publicar
-Aparece espaço para colocar o nome da pessoa que fez o comentário

Caso não acerte; envie seu comentário para o email: ligiaroeira@gmail.com

________________________________________


Um comentário:

  1. Fico tão honrada qdo vejo meus textos nesse espaço! Obrigada, Elza e Lígia, mais uma vez. Feliz por estar aqui.

    ResponderExcluir