Lígia Aroeira Ferreira
Fique por dentro
RECORDANDO
Agachados:Fernando Dias Paes,Sênio, Galdininho Alvim
Em pé: Fernando Santos(Micuçu),......................., Eônio Brandão Campello(?)
Elza Marcatto
Em dia com a notícia
O HOSPITAL SÃO VICENTE DE PAULO -(1902)
A assistência médico-hospitalar era muito precária em Ubá.
A cidade não possuia hospital e nem mesmo uma casa de caridade.
Daí a ideia da fundação de um nosocômio simples, para o preenchimento desta lacuna.
Ignácio José Godinho levou a sério o problema e, depois de sacrifícios, se desdobrando em pedidos de toda sorte, obteve doações e diversas colaborações.
A pedra fundamental da incipiente casa foi lançada em local próximo à estação da Estrada de Ferro Leopoldina.
Ignácio era muito comunicativo e não desistia.
Aproveitava-se de momentos adequados como as saídas das missas de domingo, ou durante festas diversas, para angariar fundos.
Ao regressar de suas viagens trazia contribuições em dinheiro, a fim de aparelhar devidamente o futuro hospital.
Entre os doadores não podemos deixar de destacar o Cel. Antônio Brandão, Dom Silvério Gomes Pimenta, Monsenhor Paiva Campos e muitos outros.
Em 1902 começava o Hospital São Vicente de Paulo a funcionar, modestamente, com seus 24 leitos, oferecidos por Hime e Cia.,casa onde trabalhava meu avô.
Fonte: Livro "A Trajetória" de Evandro Godinho Siqueira.
Andréa M.Vieira Occhi
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A gente nunca esquece o primeiro asfalto
José Daniel Machado
Mamãe tricotava uma
toalhinha de bandeja e nós assuntos variados. Detalhes da viagem, clima, quem
morreu, corrupção, crise econômica, receita nova, futebol, novelas, política
municipal, pronunciamentos eclesiásticos, doenças, suaves fofocas familiares e
grandes escândalos internacionais. Miscelânea de vida e amizade.
Depois da Avenida
Brasil, tomamos leite com broa de milho e fomos dormir. Antes, não resisti ao
vício da atualidade e dei uma olhada nos e-mails. Entre eles, Miúcha Girardi informava
que o Gazeta Regjornal estava preparando uma edição especial em comemoração ao
aniversário de Ubá. Generosamente, a amiga jornalista colocava sua coluna à
minha disposição para publicar uma mensagem à Cidade Carinho. Quanta honra!
Não consegui
dormir. Puxa vida, Ubá vai fazer 155 anos dia 03/07 e preciso aproveitar a
oportunidade para homenagear a cidade que me acolheu na vida e envelhecemos
juntos. Mas, dizer o quê? Talvez que o meu umbigo foi enterrado debaixo de um
pé de manga Ubá, que foi aonde aprendi o bê-á-bá, fiz Primeira Comunhão, pitei cigarro
de palha, dei o primeiro beijo, tomei o gole inicial. Quem sabe lembrar as
brincadeiras na Rua Santa Cruz, o Admissão ao Ginásio, a Praça de Esportes, o
Tiro de Guerra? Colégio Estadual, Aymorés X Bandeirantes, Cinema Brasil,
meninas desabrochando no "Sacrè-Couer", Tabajara? Quanta coisa! Tenho que selecionar,
só disponho de uma lauda. De repente, um forte cheiro de alcatrão invadiu o
quarto e me levou para o distante 1957, ano que Ubá fez 100 anos.
Durante o seu primeiro Centenário Ubá se virou
com carros de bois, carroças, charretes, maria-fumaça da Leopoldina e pouquíssimos
veículos motorizados. O calçamento era de pé de moleque à exceção da Av.
Cristiano Roças, coberta com modernos paralelepípedos. Não havia fábrica de
móveis, somente marceneiros e carapinas. A Beira-Rio era apenas quintais
bucólicos e os cascudos reinavam no Ribeirão Ubá. Irmã era chamada de Mère e as
moças só conheciam a felicidade depois do casamento. Não havia elevadores. A
cidade exalava fumo de rolo, manga Ubá, nenúfares do Balé Aquático e Cashmere Bouquet
dos bailes do Tênis Clube. A música amada era samba-canção que João Gilberto
iria revolucionar, no ano seguinte, com a Bossa Nova. Chega de Saudade.
O prefeito do
Centenário foi José Pires da Luz, eleito pelo PSD depois de disputa acirrada
com o candidato do PR, Dr. Lourenço de Azevedo. O voluntarioso político,
aproveitando a ocasião, arquitetou um plano para preparar Ubá para a era do
automóvel. “Vamos asfaltar o Jardim”, pensou com decisão. A Praça São Januário,
centro político da cidade, era a melhor vitrine para exibir as iniciativas do
Prefeito. Câmara dos Vereadores, Fórum, cartórios, Tribunal do Júri, Prefeitura,
Igreja São Januário, Bar Cristal, cadeia, Cia. Força e Luz
Cataguases/Leopoldina, Bar Municipal, "Sacrè-Couer", artesãos como Paulo
Sapateiro, barbeiro Belmiro e farmacêutico Chiquito, além de ilustres moradores
assistiam aos ubaenses indo e vindo para o trabalho, a escola, o namoro, o
footing.
Somente quem tinha
ido de Juiz de Fora para lá conhecia as delícias do asfalto. O odor de alcatrão
não era conhecido dos ubaenses, acostumados somente com o cheiro de poeira. As
obras iniciaram sob a supervisão de uma comissão de notáveis: Chuva de Banda,
Heitor Cidadão, Mário Sete Léguas, Bebê Chorão, Bala de Coco, Jura, Maria dos
Cachorros, Tarin, Inês, Catapluf, Zaganoff, Didico Gelofrê, João Bananeiro. Curioso,
acompanhei o serviço doido para estrear o novo piso com minha bicicleta de
freio contrapedal.
Primeiramente, os
estercos foram retirados das ruas, as graminhas entre as pedras capinadas com
um ferrinho em forma de L e o chão varrido cuidadosamente com vassoura de
piaçava. Em seguida, os operários, com regadores, passaram uma demão de piche
fumegando e o cheiro de progresso chegou à Ubá. Contratado com antecedência, Sô
Gustavo Gore despejou vários caminhões de brita que, espalhada com ancinho, deixou
as ruas preparadas para receber o alcatrão. Este, transportado em tambores, era
aquecido com maçarico e aplicado sobre a brita. Um pequeno rolo compactador,
pra lá e pra cá, completou o serviço. Pronto, a macadame estava pronta e Ubá
preparada para receber a enxurrada de automóveis que Juscelino Kubitschek
iniciava a produção em São Paulo.
Saudoso, dormi. Sonhando levemente que
dançava no Ubá Tênis Clube ao som do Conjunto Garotas fui acordado com uma
estocada no coração. O dardo veio de um Monza 88 que passava na Santa Cruz, com
dezenas de alto-falantes abertos, tocando “Eu quero tchu, eu quero tcha / Eu
quero tchu tcha tcha tchu tchu tcha ...”.
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