O advogado e político Carlos Peixoto de Mello Filho nasceu em Ubá, MG, em 1º de junho de 1871. Era filho do Dr. Carlos Peixoto de Mello, antigo Senador do Império e ex-Presidente da Câmara Municipal de Ubá, e de D. Agostinha Brandão Peixoto de Mello, pertencente a uma tradicional família da região.
Fez exames de madureza no Ateneu Mineiro, de Juiz de Fora, concluindo com 14 anos de idade o curso secundário e o preparatório ao superior.
De privilegiada inteligência, foi com a idade de 15 anos, em 1885, que se matriculou – graças a uma licença especial concedida pelo então Ministro da Justiça – no primeiro ano da Faculdade de Direito de São Paulo, onde afinal se diplomou, com apenas 19 anos de idade, em 6 de novembro de 1890. Sua turma de formandos era composta de nomes ilustres, como João Luís Alves, Edmundo Lins, Mendes Pimentel, Herculano de Freitas, Paulo Prado, Afonso Arinos e Otávio Mendes.
Recém formado, voltou à terra natal para exercer a advocacia durante dois anos, adquirindo logo a fama de grande orador. Em seguida, ingressou na magistratura como juiz municipal em Ubá.
Em 1895 retomou a banca de advocacia, atuando com destaque nessa área, e ingressou na política, participando ativamente das lutas partidárias locais. Na ocasião, fez parte do júri que colocou em rivalidade na cidade as famílias Soares de Moura e Peixoto de Mello.
Em 1896 elegeu-se, com apenas 25 anos de idade, presidente da Câmara Municipal de Ubá, que, à época, era também o Agente Executivo da cidade (correspondente hoje ao cargo de Prefeito Municipal).
Dentre outras iniciativas altamente relevantes de sua autoria, lutou para garantir a autonomia municipal. Foi ele quem redigiu a Lei Orgânica do Município e promoveu a ampliação das escolas municipais.
Carlos Peixoto Filho foi também presidente da Câmara Municipal de Visconde do Rio Branco, no período de 1906 a 1911. Durante sua administração, foi construído e inaugurado o jardim público da Praça 28 de Setembro, que em 1909 recebeu o seu nome.
Talvez se possa dizer dele o que Gilberto Freyre disse da geração anterior: “uma geração que na idade dos brinquedos e dos folguedos já vestia roupa preta e calçava borzeguins pretos, de luto, talvez, da própria meninice".
Carlos Peixoto Filho teve, como se vê, uma formação intelectual precoce, o que explica a sua rápida ascensão política. Admirado como orador brilhante e político hábil, elegeu-se deputado estadual em 1903, aos 32 anos, e em pouco tempo ascendeu à posição de líder do governo mineiro de Francisco Sales (1902- 1906).
Participou da discussão dos projetos de reforma constitucional e de reforma eleitoral com grande destaque, mas permaneceu na Câmara estadual apenas por quatro meses. Nessa época, Peixoto Filho foi também eleito como membro do Instituto Histórico e Geográfico de Minas Gerais.
Em 3 de agosto de 1903 foi eleito deputado federal na vaga de Carlos Vaz de Melo, por sua vez eleito para o Senado Federal, e em setembro foi empossado. A bancada mineira na Câmara dos Deputados era composta de 37 representantes, enquanto a segunda bancada, a paulista, era limitada a 22. Foi o período do apogeu da política mineira no plano federal. Sua estreia na Câmara provocou sensação quando do pedido de licença para processar um deputado, em que se conclamava a bancada mineira à “libertas quae sera tamen”, ao que respondeu com o “sub lege libertas”.
No Congresso Nacional estabeleceu-se então o confronto entre o senador Pinheiro Machado, que até então havia detido a liderança política, e o jovem deputado Carlos Peixoto Filho, que em 1907 foi eleito presidente da Câmara Federal, aos 36 anos.
Ao ser reeleito presidente da Câmara em 15 de março de 1909, Carlos Peixoto Filho fez um discurso de posse afirmativo. Nele dizia “que somos capazes de praticar a liberdade civil, impedindo que se degenere a demagogia inconsciente que conduz à anarquia e assim abre caminho fácil a perigosas aventuras de violência, fonte e matriz do cesarismo e da tirania”.
Porém, tendo encontrado muitos obstáculos, Carlos Peixoto Filho se sentiu desprestigiado e renunciou à presidência da Câmara. Declarou que “tendo deixado de dirigir a bancada mineira, renunciava ao posto, mas conservava o mandato, que pertencia a seus eleitores.” Retornou aos debates parlamentares, mas sem maior vigor.
Fiel aos próprios ideais, Carlos Peixoto de Mello Filho colocou-se na campanha civilista ao lado do conselheiro Ruy Barbosa – em oposição ao candidato oficial à Presidência da República, marechal Hermes da Fonseca – e discursou na convenção realizada no Teatro Lírico, em 22 de agosto de 1909.
Em 1910 participou da assembleia que anistiou os marinheiros que integraram a Revolta da Armada, comandada pelo marinheiro João Cândido. Encerrando o seu mandato em dezembro de 1911, tentou afastar-se da política, mas não conseguiu.
Foi reeleito deputado federal na oitava (1912-1914) e na nona (1915-1917) legislaturas, período em que passou a integrar a Comissão de Finanças da Câmara. Os Relatórios da Receita para os exercícios de 1915, 1916 e 1917, por ele elaborados, foram documentos importantes da sua vida parlamentar.
Depoimentos históricos nos relatam que Carlos Peixoto de Mello Filho era homem de muitas proezas. Uma dessas proezas, porém, tornou-se antológica: a de ter sido ele, simultaneamente, Presidente da Câmara dos Deputados, no Distrito Federal, e Presidente da Câmara Municipal (Agente Executivo) de Visconde do Rio Branco.
Sobre isso e sobre o fato de as duas cidades coirmãs, Ubá e Visconde do Rio Branco, reclamarem a condição de berço do ilustre parlamentar, bem a propósito se transcreve aqui, ipsis litteris, um texto publicado em 1908 na Revista “Fon Fon”:
"Se o Dr. Carlos Peixoto Filho é, pelo coração, de Rio Branco, é, pelo nascimento, de Ubá. Nos tempos acadêmicos, S. Exª ufanava-se de ser de Ubá. Entretanto, attendendo ao seu pedido, declararemos do alto desta columna que o Dr. Carlos Peixoto é Presidente da Câmara Municipal da cidade de Rio Branco e ahi reside há nove annos. De maneira que o jovem parlamentar tem com Homero, poeta épico da Grécia antiga, esta semelhança: duas cidades mineiras reclamam a honra de lhe terem servido de berço. A differença está apenas em que Homero era reclamado por sete cidades e o Dr. Carlos Peixoto, por ora, é apenas reclamado por duas. Como S. Exª ainda é muito moço, é natural que, com o andar dos tempos, outras cidades reclamem esta distincta honra."
Quis o destino que tal vaticínio não se concretizasse. Carlos Peixoto de Mello Filho foi atacado por uma tuberculose pulmonar, recolhendo-se isolado (era solteiro) a Jacarepaguá, no Rio de Janeiro, antigo Distrito Federal, onde faleceu, com apenas 46 anos de idade, em 29 de agosto de 1917.
Ele, que odiava os necrológios, teve um dos mais enfáticos a que a Câmara jamais assistiu. Sua morte foi lamentada em discursos veementes proferidos por homens de várias regiões e de várias gerações.
Por proposta do presidente Antônio Carlos, a Câmara Federal fez-se representar nos funerais de Carlos Peixoto Filho por uma comissão de vinte e um membros, simbolizando os Estados da Federação.
A municipalidade ubaense, por sua vez, imortalizou a figura de Carlos Peixoto de Mello Filho dando o seu nome a uma das ruas centrais da cidade, a antiga "Rua do Commercio". É o patrono de um importante estabelecimento de ensino, a Escola Estadual Deputado Carlos Peixoto Filho (Ginásio Polivalente). Foi igualmente homenageado pela Leopoldina Railway, dando seu nome a uma de nossas estações ferroviárias, a "Estação Carlos Peixoto Filho", inaugurada em 1906, situada a poucos metros da histórica Fazenda da Liberdade, antiga residência ubaense do grande Cesário Alvim (1839-1903).
Carlos Peixoto de Mello Filho é Patrono da Cadeira nº 26 da Academia Ubaense de Letras, inicialmente ocupada pela acadêmica Maria Alice Gonçalves Luz. A Cadeira encontra-se atualmente em vacância.
Pesquisa: Clair de Melo Rodrigues
Cadeira nº 05 da Academia Ubaense de Letras
Patrono: Monsenhor Paiva Campos
Ubá, MG, 20 de janeiro de 2019
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