Lígia Aroeira
Últimos Boleros - 11ª Parte
Nelson chegou ao noticiário policial num período de intensas transformações do mercado fonográfico.
Naquele momento, o rádio brasileiro encontrava-se dividido: de um lado estavam as emissoras FM, com som estéreo e programação jovem, focada em pop rock; do outro, o AM, com sinal mais abrangente e ênfase no forró, sertanejo e música romântica.
Aos 40 anos, o cantor saía de moda e revelava desconforto com a crescente apatia do público.
"Não quero passar a imagem de ressentido, mas é estranho o que acontece", declarou ao Jornal do Brasil.
"Toco nas FMs de Nova York, de Miami, do México, de tudo que é grande capital. Menos nas FMs brasileiras. Aqui, me chamam de brega e boicotam. Ora, são as mesmas rádios que tocam Julio Iglesias e Fábio Jr."
Já em casa, mostrava-se aberto ao gosto musical dos rebentos. O quarto de Nelson Ned Junior era forrado com pôsteres do Iron Maiden, AC/DC e outros grupos ligados ao heavy metal; Verônica e Monalisa preferiam Menudo.
Quando a boy band porto-riquenha veio ao país, em 1985, Nelson promoveu um encontro das filhas com os rapazes, instalando-as no mesmo hotel que eles.
E, ao avistar Gene Simmons e Paul Stanley no Gallery, extinta casa noturna frequentada por ricaços paulistanos, ordenou a seu motorista que buscasse Junior — era a chance de o primogênito conhecer pessoalmente os integrantes da banda Kiss.
"Lá pelos dezessete anos, entrei numa fase meio rock and roll e não curtia o som do meu pai", lembra Monalisa.
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